Mas, afinal, o que é liderar?
Maria Luisa Wey*
Conforme entramos na era do conhecimento em que a globalização e automação fazem com que o diferencial competitivo das empresas seja seus funcionários, cada vez mais se faz necessário envolver e influenciar positivamente as pessoas, para, deste modo, motivar e garantir que cada um entregue o melhor de si, ou seja, que cada um utilize plenamente todo o seu potencial.
Tal processo não deve ser visto meramente como um mecanismo para aumentar o desempenho da empresa, mas sim como uma etapa essencial à sua sobrevivência.
As empresas têm seu tempo de nascimento, crescimento e morte, e geralmente, nelas, a duração destes tempos, em muito difere de em nós, seres humanos.
Isto significa que empresas, com suas estruturas e funcionários, freqüentemente tem um lento e longo processo de declínio, ou morte, e o fato de muitas vezes seus colaboradores não se darem conta disso, não impede que este processo se inicie.
Funcionários motivados e envolvidos auxiliam a sobrevivência da organização no curto e longo prazo; aumentando sua participação no mercado e tornando excelente a qualidade de seus serviços e produtos.
Além, claro, de diminuírem significativamente os custos, seja através do aumento da produtividade que leva à redução de desperdícios, seja através de um maior grau de retenção de talentos.
Uma das atribuições essenciais dos líderes é justamente envolver, influenciar positivamente e motivar seus liderados, garantindo o processo acima descrito. O conceito atual de competência engloba três esferas: o saber (conhecimento em si), o saber fazer (conhecimento aplicado), e o querer fazer (atitude). Sem influenciarmos, jamais conseguimos obter a atitude.
Vivemos numa era em que não se pode mais ignorar a influência dos sentimentos e interações humanas na capacidade de executar tarefas, independentemente da consciência que tenhamos disto.
Assim, cresce a importância dos líderes.
Muito se diz e escreve a respeito disso e ao analisarmos o histórico das teorias de liderança, constatamos que o tema já foi estudado a partir de inúmeros enfoques, desde os traços predominantes dos líderes, passando por seu comportamento, capacidade de adaptar-se aos liderados e à situação, chegando até sua função estratégica e transformadora.
Em inúmeros textos lemos a respeito do que é ser líder e existem listas que englobam um número quase infinito de competências e atitudes positivas que líderes supostamente têm.
Ao nos depararmos com tudo isto, não conseguimos deixar de nos espantar e pensar que caso procuremos, a probabilidade de encontrarmos alguém que possua efetivamente todas estas características é baixíssima, quiçá inexistente.
Diante deste excesso de informação ficamos confusos e não conseguimos chegar no que é essencial à liderança eficaz.
É necessário realmente tudo isso? Afinal, o que é liderar?
Se analisarmos uma lista de pessoas que fazem parte de nossa história e que inquestionavelmente exerceram liderança, percebemos que, independentemente de sua localização geográfica e contexto histórico e político, todas elas têm certas coisas em comum e que, conscientemente ou não, estas pessoas fazem ou fizeram uso de determinadas técnicas.
O que pessoas tão distintas quanto Gandhi, Martin Luther King e Madre Teresa de Calcutá podem ter em comum? O principal ponto é a presença de um objetivo.
O líder deve motivar os outros e uma condição básica para que haja motivação é a existência de um objetivo claro a ser alcançado. Mais que um objetivo, uma visão; um ideal pelo qual valha a pena lutar.
A energia natural para mudar a realidade vem da habilidade do líder de mostrar uma visão que seja compartilhada pelas pessoas que deseja motivar, que as atraia.Uma realidade da qual elas queiram fazer parte; uma situação que seja necessariamente melhor do que a situação na qual elas se encontram no momento.
A presença clara do objetivo age como mola propulsora, leva as pessoas a enfrentarem a adversidade. Uma frase muito boa que expressa está idéia é: “Quando temos um porque superamos qualquer como”.
Acima, citamos também o uso de determinadas técnicas.Não basta simplesmente estabelecer o objetivo, a visão, há todo um trabalho a ser feito em cima disto, e é justamente neste ponto em que as técnicas entram.
E no que elas consistem? A principal delas é que, ao apresentar a visão, o líder deve considerar quais as necessidades dos liderados e fazer a convergência dos objetivos deles e dos seus objetivos, fazendo com que eles vejam o alcance de sua visão como uma resposta às suas necessidades.
Além disso, deve-se incutir nas pessoas a vontade de criarem ferramentas que as possibilite alcançar a visão mostrada, ou seja, fazer com que as pessoas queiram aprender mais para assim conseguirem alcançar este ideal, deixando claro quais os passos a serem dados para que isto aconteça.
Existem técnicas para mostrar como dar estes passos, mas isso já é assunto para um outro artigo...
De qualquer modo, seguindo os passos aqui apresentados, certamente o líder conseguirá motivar seus liderados a darem o melhor de si.
*Maria Luisa Wey é formada em Lingüística e Português pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em Gestão de Recursos Humanos e Relações Industriais (University of Hertfordshire Reino Unido, 12/2003), certificada pelo CIPD.